sábado, 27 de julho de 2013

começo auspicioso

No outro dia, ao descer o Campo Grande, um passageiro de um taxi que me ultrapassou, espremendo-se para fora da janela, gesticulou para o passeio do lado direito (onde, por sinal, está implantada uma ciclovia). Questiono-me se, com tanta ideia peregrina que por aí se manifesta, não estaremos a permitir uma espécie de "pedagogia negativa" em que alguns cidadãos, no exercício da sua faculdade de julgar (e do seu direito de opinar), passam a considerar que os velocípedes já não têm direito de circular no asfalto - uma vez que têm a ciclovia. Perco a conta aos zelotas que se preocupam em me brindar com curtas diatribes, normalmente em linguagem bastante venal, avisando-me sabe-se lá do quê (talvez, que estou a abusar dos meus direitos? na sua mente desarrumada, talvez caiba essa contradição). Por vezes são os motoristas, mas os penduras, na minha experiência, são muito piores.

Lembro a quem possa não estar esclarecido, relativamente a esse assunto, que o Código da Estrada estabelece o direito relativamente à circulação na via pública e que não proíbe o trânsito de velocípedes, nem em ruas, nem em avenidas urbanas, nem em estradas municipais ou nacionais, dentro de localidades ou fora delas, a menos que a sinalização assim o estipule. E nenhuma tal sinalização existe, que eu conheça, nos itinerários que costumo fazer. Assim sendo, o zelo destes cidadãos não passa de um traje hipócrita, cortado e costurado com a sua frustração de querer andar mais depressa e não poder fazê-lo, sem privar outro cidadão do exercício da sua liberdade, dentro dos limites do direito.

Posto isto, quero deixar escrita - pois não pude gritá-la de modo a que a ouvissem - a minha resposta aos considerados cidadãos que, há poucos minutos, subia eu o mesmo Campo Grande, romperam a calma do serão alfacinha com uma série de violentas apitadelas (talvez por graça do condutor) e, ainda, esta pérola, berrada da janela pelo pendura - "desvia-te, ó puto de merda!". A este estimado concidadão, sobretudo, quero dirigir a minha resposta:

"vai para o Diabo que te carregue, seu CABRÃO DE MERDA"

Juro que ponderei as minhas palavras e procurei um insulto que, sem atingir inadvertidamente terceiros (o que frequentemente acontece no insulto), carregue toda a minha própria frustração, por não conseguir não me irritar com esta gentalha. É, decerto, em grande importância, por esta mentalidade de besta quadrada ser tão generalizada, na nossa sociedade, que estamos como estamos. Muita coisa mudaria, se passássemos a ter a consideração e o respeito pelo outro como princípio basilar de convivência.

Agora que já está cá fora, vou dormir e tentar sonhar que amanhã o rácio de pessoas e bestas seja um cagagésimo mais elevado (ou seja, mais favorável ao numerador).

Boas Noites.

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