domingo, 8 de junho de 2014

GRATO ou OBRIGADO?

Ou, melhor ainda: grat@! Maravilhosa internet que nos permite expressar o impronunciável.

Farto, é o que é, um bocado farto dessa mania das "novas consciências iluminadas", de que mudando de linguagem mudamos a realidade. Na minha terra, nunca ouvi agradecer com o termo "grato" até aqui há uns anos. Sempre ouvi o "obrigado" ou o "obrigada".

Mas os iluminados desta nova era entendem que o termo encerra uma noção de subserviência, logo, mude-se a palavra - muda-se a consciência! Errado, o que se perde é a riqueza semântica da língua, que, por esquecida, não devia deixar de ser buscada em primeiro lugar, por quem se propõe aprimorar a sua expressão verbal.

"Obrigado" vem do latim "ob-ligare", “ligar por todos os lados", implicando que a gratidão é acompanhada de um laço indefectível com aquele a quem se agradece. É o mais elementar reconhecimento da nossa interdependência, tão arcaico que as culturas "menos sofisticadas" do que a nossa não se contentam com uma fórmula simples, mas elaboram: "fico-te ligado para sempre", "a minha vida pertence-te", etc... Não se trata de subserviência - trata-se de entender, como os antigos entendiam muito bem, que existimos em relação com o outro e só em relação com o outro.

Agora, pensemos de novo: o que é, para nós, a gratidão? Um vago sentimento de bem-estar, de "beatitude" etérea?  Então, digamos "grato" e vamos para casa contentes, sem dívidas, ébrios de "não sei bem o quê", ao ponto da inconsciência.

Ou uma vivência muito real da nossa relatividade ontológica, da nossa auto-insuficiência e da imensa graça de termos no outro alguma confirmação do nosso ser - digamos "obrigado" e celebremos, de forma consciente, essa interdependência de todos, para com todos.

Não tenhamos pressa em modificar uma língua de que só conhecemos a superfície, nem sejamos convencidos de que descobrimos aquilo que todos os outros antes de nós foram incapazes de ver.

Sem comentários:

Enviar um comentário