sábado, 25 de janeiro de 2014

os Iluminados

Mas que bicho é que mordeu a minha rede social, hoje? Será que desceu o Espírito Santo e desatou tudo a falar com Deus? É só mensagens de iluminados! Desde os que exaltam o seu discernimento pessoal aos que professam o Ideal da Autoridade (assim mesmo, com letra maiúscula), que deve velar pelas massas néscias que necessitam de ser protegidas de si mesmas... Passando pelos que acusam "os cientistas" de serem "uns nabos", vítimas da "cegueira do conhecimento"... Que diabo?!

Apetece-me citar: "ali haverá choro e ranger de dentes" (Mt.22,13... e vale a pena ler o resto do capítulo).

S.João da Cruz refere-se aos que se sentem (e passo a citar) "cheios de fervor e entusiasmo pelo que respeita às coisas espirituais e aos exercícios de piedade. E, se é verdade que as coisas santas levam por si mesmas À humildade, esta feliz disposição, em consequência da sua imperfeição, engendra muitas vezes um certo orgulho secreto que leva os iniciantes a sentirem alguma satisfação pelas suas obras e por si próprios. Daí advém alguma vaidade, às vezes muito grande, de falar das coisas espirituais na presença dos outros, e até de querer ensinar-lhes em vez de aprender com eles".

Mea culpa. Mas não resito ao humor do santo: "alguma vaidade, às vezes muito grande"...

Ou ainda: "algumas vezes as pessoas dadas à espiritualidade, ao falarem de sujeitos de devoção ou ao cumprirem actos de piedade, deixam-se caír numa certa jactância e enfatização; pensam nas pessoas presentes e agem com alguma complacência fútil". Isto escrevia S. João da Cruz no sec. XVI ("A Noite Obscura").

Assumo totalmente a minha própria medida de arrogância ao escolher, mais uma vez, não ficar calado. Mas que pode um pobre mortal fazer quando lhe atiram com coisas como isto: "não vá a "Doutrina Secreta" cair nas mãos da "gentalha" perfeitamente incapaz de compreender os graus mais subtis da Vida (ou da Noite)".

Para evitar referir-me ao barroco do recurso às maúsculas no meio da frase que, na língua portuguesa, não é regra excepto nos nomes próprios e até fica mal... Parece uma tentativa de representar por escrito uma ênfase retórica... Como um orador a levantar a mão ao pronunciar "a Jactância!" ou "a Nesciência!"

Sobre os que contemplam os "graus mais subtis" do entendimento, Camões escrevia ("Os Lusíadas", canto X, 82):

"Aqui, só verdadeiros, gloriosos
divos estão, porque eu, Saturno e Jano,
Júpiter, Juno, fomos fabulosos,
fingidos de mortal e cego engano.
Só para fazer versos deleitosos
servimos"...


Fico por aqui...

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